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Quando você atinge a maturidade, as redes neurais que governam o controle cognitivo já estão bem aprimoradas. Anos de aprendizado e experiência condicionaram seu cérebro a distinguir entre informações importantes e distrações. Teoricamente, a capacidade de foco e de concentração devem estar em seu nível máximo. Porém, as variáveis da vida cotidiana inevitavelmente colocarão obstáculos em seu caminho.
Para se manter no topo do jogo, é importante reconhecer e abordar os fatores físicos e emocionais que interferem no seu foco e concentração. Lembre-se também de que seu cérebro é um órgão de carne e osso. O que está acontecendo em seu corpo – desde o envelhecimento até doenças e fatores relacionados ao seu estilo de vida, como o sono e o consumo de álcool – desempenha um papel fundamental na sua capacidade de prestar atenção e de se concentrar, da mesma maneira que as flutuações neuroquímicas que governam o humor.
Vamos dar uma olhada em algumas das coisas que podem afetar o seu foco.
Sono de má qualidade
Ter uma rotina de sono consistente e de boa qualidade é vital para a saúde no geral. Nossos corpos dependem de uma certa quantidade de sono regular para uma variedade de funções cerebrais essenciais.
O sono sintoniza o sistema imunológico, o coração e os vasos sanguíneos, além do humor e do sistema hormonal. É o sono que nos permite consolidar o que aprendemos e codificar novas memórias, sendo ainda fundamental para regular a atenção.
À primeira vista, o sono e a atenção ativa parecem estados mentais completamente opostos. No entanto, ambos envolvem ponderar a importância das distrações para decidir se devemos ignorá-las. Diferentemente do estado de vigília, todavia, no qual o cérebro se mantém preparado para processar novas informações recebidas por meio dos sentidos, o sono praticamente exclui a consciência do mundo exterior, bem como dos seus próprios pensamentos. Dessa forma, o sono dá ao cérebro um “tempo de inatividade” para incorporar e dar sentido aos dados adquiridos durante as horas que você passou acordado.
Uma noite mal dormida prejudica sua capacidade de concentração no dia seguinte. O córtex pré-frontal (PFC) torna-se menos eficiente na classificação dos estímulos do mundo ao redor e em evitar distrações. Os tempos de reação ficam mais lentos e seu comportamento pode ser um tanto errático, porque o PFC não consegue fazer seu trabalho bem. Além disso, dormir cinco horas ou menos por noite reduz a capacidade de lidar com grandes quantidades de informação e interrompe os circuitos neurais entre as regiões do cérebro. Como resultado, seu cérebro pode realizar atividades rotineiras com base no hábito, mas ter um desempenho ruim em tarefas novas, que exigem atenção seletiva e memória de trabalho.
Por outro lado, a atenção pode impulsionar a necessidade de sono. Evidências científicas recentes sugerem que, após períodos de atenção e aprendizado intensos, o cérebro precisa de intervalos de sono profundo ou de ondas lentas para organizar e solidificar as conexões neurais recém-formadas.
Distrações digitais
Quer você ame ou odeie a era digital, vivemos nela e não há como voltar atrás. Todavia, o tsunami atual de distrações digitais pode representar desafios para as redes neurais que regulam a atenção.
De muitas maneiras, a presença constante dos nossos smartphones acaba atrapalhando a capacidade de manter o foco em uma tarefa. As distrações mais óbvias são os alertas que vêm do próprio celular. Simplesmente ouvir o som ou sentir a vibração já gera distração suficiente para interferir em uma tarefa, mesmo que você não dedique tempo para ver a mensagem. Depois de interagir com o telefone, atendendo uma chamada, por exemplo, é fácil desviar sua atenção para outras atividades relacionadas, como responder a e-mails. Ícones, cores vivas e melodias cativantes despertam o interesse por esses aplicativos e aumentam a sua capacidade de atrair o foco para longe de outras tarefas.
A atração é ainda mais forte para as atividades que fazemos por prazer, como interagir nas mídias sociais ou jogar um jogo. A pesquisa mostrou que atualizações nas mídias sociais, como curtidas em nossas postagens ou fotos dos nossos amigos rindo, desencadeiam um aumento na dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa, o que pode diminuir a motivação para prestar atenção em qualquer outra coisa.
De acordo com uma pesquisa de 2018 da empresa de tecnologia Asurion, os norte-americanos checam seus celulares em média 80 vezes por dia, enquanto os usuários mais frequentes superaram 300 verificações diárias. Porém, sempre que interrompemos algo que estávamos fazendo para verificar o celular, suspendemos a concentração e temos que começar de novo.
Além das distrações típicas das mídias, a exposição à luz azul emitida por telefones, tablets e telas de computador pode promover insônia. Um estudo de 2017, publicado na revista Chronobiology International, envolvendo jovens adultos na faixa dos 20 anos, mostrou que a exposição à luz azul antes de dormir reduz o tempo de sono em aproximadamente 16 minutos. A exposição à luz azul também reduz a produção corporal de melatonina, um hormônio relacionado aos ciclos normais do sono.
Uso de álcool e drogas
O álcool etílico da cerveja, do vinho e das bebidas destiladas é um depressor do sistema nervoso central. Interfere no pensamento, na memória e no controle motor, geralmente retardando a atividade cerebral. A ingestão excessiva de álcool pode causar fala arrastada, tempo de reação lento, interrupções do sono e memória prejudicada, além de afetar a capacidade de julgamento. Claro, tudo isso torna a concentração mais difícil.
Atenção saudável significa ser capaz de se concentrar em uma tarefa, mas também mudar facilmente para outra tarefa mais urgente, se necessário. Porém, beber álcool pode restringir o escopo da atenção. Quando embriagado, você acaba mantendo o foco somente no que está diante de você, ao invés de considerar um leque mais amplo de informações ou de consequências. Os psicólogos chamam esse fenômeno de “miopia alcoólica”.
Ao beber muito, as pessoas tendem a se concentrar no que querem fazer, sem levar em conta se o objetivo é viável. No entanto, uma vez que a pessoa está sóbria, o compromisso com os grandes planos traçados sob efeito da bebida diminui.
Também são prejudiciais ao cérebro as drogas ilícitas como heroína, cocaína e anfetaminas. Essas drogas criam uma sensação agradável ao desencadear uma inundação de dopamina. Esse sentimento anula o seu controle cognitivo e faz você querer mais e mais da droga. Eventualmente, isso leva à dependência, mudando então o seu foco para a obtenção e uso da droga. Mesmo quando drogas como as anfetaminas aumentam a sua capacidade de foco, elas também prejudicam sua capacidade de deixar ir e se concentrar em outra coisa. Com o tempo, o uso de drogas também pode “reprogramar” o cérebro, alterando permanentemente as áreas envolvidas na memória, na tomada de decisões e no aprendizado.
Estresse
O córtex pré-frontal é particularmente vulnerável aos efeitos do estresse. Sob condições normais, ele pode regular o nível dos hormônios do estresse para maximizar o estado de alerta, apoiando o controle cognitivo e as funções executivas.
Sob condições estressantes, no entanto, a amígdala, uma parte do cérebro que regula as emoções, assume o controle. A amígdala ativa vias de estresse em estruturas profundas no cérebro que fazem com que a respiração fique mais rápida e a frequência cardíaca aumente. Essa mudança enfraquece ainda mais as capacidades do PFC em relação à atenção e à memória de trabalho. Por exemplo, todos já ouvimos histórias sobre pessoas que ficaram tão estressadas durante uma prova que esqueceram tudo o que haviam estudado. Embora essas adaptações possam ser úteis para enfrentar momentos de crise, a exposição contínua aos hormônios do estresse tem efeitos reais e mensuráveis no cérebro, incluindo a perda mais rápida de neurônios.
O estresse crônico pode diminuir o córtex pré-frontal, corroendo ainda mais as funções executivas. Além disso, o número e os níveis de atividade dos neurônios aumentam na amígdala, onde são processadas as ameaças e o medo. Isso amplifica a sua consciência em relação aos perigos percebidos no ambiente. E afinal, todos nós sabemos como o estresse pode nos fazer perder o sono, prejudicando o foco, a concentração e a memória. A boa notícia é que muitas das técnicas testadas e comprovadas para reduzir os impactos do estresse mental em seu cérebro também podem melhorar a sua capacidade de concentração.
Ter um sono de boa qualidade, exercitar-se regularmente, limitar as distrações digitais e praticar a atenção plena/mindfulness são redutores de estresse eficazes. Não por acaso, são também elementos essenciais para melhorar o foco e a concentração.
Fatores médicos
Dificuldades de foco e concentração podem ser exacerbadas por problemas de saúde física ou mental. Em alguns casos, tratar condições como depressão, ansiedade, peso corporal pouco saudável ou inflamação crônica pode resultar na melhora do foco. Fazer mudanças no estilo de vida, como dormir o suficiente e remover as distrações digitais, também pode ajudar a aprimorar o seu poder cerebral, independentemente de outros fatores que possam estar contribuindo para problemas de concentração.
Alguns fatores médicos que podem interferir no foco e na concentração:
Obesidade
Traumatismos cranioencefálicos
Medicamentos
Inflamação
Depressão e ansiedade
TDAH adulto
Envelhecimento
Doenças cardíacas e arteriais
Enfarto
Câncer
Demência
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